Relatório entregue por Cláudio Castro ao ministro Alexandre de Moraes sobre a megaoperação que resultou em 121 mortos expõe o abismo entre a realidade das favelas e a burocracia de Brasília.

O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), entregou nesta última segunda-feira (3) ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), um relatório detalhado sobre a megaoperação policial realizada no dia 28 de outubro, que deixou 121 mortos em confronto com integrantes do Comando Vermelho (CV). A ação, chamada de “Operação Contenção”, foi apontada pelo governo fluminense como legítima, proporcional e necessária diante do avanço territorial e do poder de fogo da maior facção criminosa do estado.
O documento, assinado por Castro e elaborado pela Secretaria de Polícia Civil (Sepol), argumenta que a operação cumpriu mandados judiciais, foi acompanhada pelo Ministério Público e planejada para evitar danos a áreas residenciais e escolas. O texto ressalta ainda que o confronto se deu em área de mata, não em zonas densamente povoadas, “justamente para reduzir o risco à população civil”.
Mas o que deveria ser uma análise técnica virou, mais uma vez, um ato de desconfiança política por parte do Supremo. O ministro Alexandre de Moraes, relator da ADPF 635 — conhecida como “ADPF das Favelas” —, pediu explicações ao governo estadual, insinuando que a operação poderia ter desrespeitado os limites impostos pela Corte às ações policiais nas comunidades.
É aqui que surge a crítica inevitável: de dentro de um gabinete climatizado em Brasília, é fácil exigir moderação em uma guerra urbana. O Rio de Janeiro vive sob o domínio de facções que desafiam o Estado, controlam territórios inteiros e impõem toque de recolher. A polícia, mal aparelhada e em desvantagem bélica, enfrenta grupos que possuem fuzis de uso restrito e tecnologia de ponta para monitorar as forças de segurança — como mostram as recentes descobertas de redes de câmeras e rádios clandestinos operados pelo tráfico.
Enquanto isso, parte do Supremo insiste em enquadrar operações legítimas como abusos, ignorando que cada incursão policial é uma tentativa de recuperar territórios dominados pelo crime. É incoerente cobrar resultados na segurança pública e, ao mesmo tempo, amarrar as mãos de quem está no front.
Cláudio Castro foi direto ao ponto: “A legalidade decorreu do cumprimento de mandados judiciais; a necessidade e a proporcionalidade foram aferidas diante da resistência de facção fortemente armada”.
O governo fluminense reconheceu que há “desvantagem” no confronto com o poderio bélico das facções, mas reforçou que o uso da força foi proporcional às circunstâncias. Ainda assim, Moraes mantém o olhar desconfiado sobre cada passo da polícia, como se o inimigo estivesse no batalhão — e não nas vielas controladas por traficantes.
A verdade é que o STF precisa decidir de que lado está: do lado da lei que protege o cidadão de bem, ou do discurso que, na prática, protege o crime sob o pretexto dos “direitos humanos seletivos”.
O Rio de Janeiro não pede licença para se defender. Pede respaldo.
Por Marcos Soares
Jornalista – Analista Político instagram.com/@marcossoaresrj | instagram.com/@falageralnasruas





