As revelações em torno do caso Master — com o banqueiro Daniel Vorcaro preso pela Polícia Federal e seu banco sob liquidação pelo Banco Central — não são apenas mais uma crise financeira. Elas escancaram uma teia de poder que vai muito além da contabilidade do Master: atingem o coração da República.
Relações perigosas no topo
O fato de o escritório de advocacia de Viviane Barci de Moraes, esposa do ministro do STF Alexandre de Moraes, ter sido contratado pelo Banco Master leva o assunto para um terreno que já deveria ter sido interditado: o do conflito de interesse. Viviane e seus dois filhos atuam no escritório Barci de Moraes — e agora constam entre os que prestaram serviço ao banco investigado pela emissão de títulos suspeitos. O Tempo+2Diário do Grande ABC+2
Até aqui, tem sido defendido nas reportagens que ela atuava em poucas ações em nome do Master, e que não há transparência sobre quanto recebeu. UOL Economia+2Blog do BG+2 Mas será que “poucas ações” significam “pouco risco ético”? No cenário político brasileiro, essas coincidências muitas vezes não são meras coincidências — são sinais de um sistema que se retroalimenta.
Uma aliança que atravessa partidos
Mais inquietante ainda é a ligação com o Centrão e o PT. O escândalo não para no STF: o sócio do escritório da Viviane, Gapare Gama, é apontado como tendo “trânsito pesado” no Senado, mantendo proximidade com Jaques Wagner, líder do governo Lula. BNews Natal+2YacoNews+2
Se essas relações pareciam pontuais até agora, com a bomba do Master elas ganham contornos de uma engrenagem política de alto risco — com operadores jurídicos, políticos e financiadores entrelaçados nas pontas de um mesmo esquema.
Do Judiciário ao Centrão: a influência invisível
A eventual captura dessas conexões (se é que toda a rede pode, de fato, ser capturada) deveria provocar uma reflexão séria: até que ponto a elite do Judiciário está imune a interesses privados? A imagem do ministro Alexandre de Moraes ganha uma sombra quando seu entorno familiar é parte ativa de um negócio que agora está sob investigação criminal. E como não questionar a legitimidade de decisões futuras, quando o poder parece tão entrelaçado com fontes de financiamento suspeito?
O PT e o Centrão, por sua vez, vêm ganhando nesta crise. A influência de Jaques Wagner e as relações entre o Master e figuras do Senado reforçam temores antigos de que certas negociações políticas se efetuam fora da luz pública, com favorecimentos recíprocos mascarados por contratos jurídicos ou consultorias.
Um modelo que expõe fragilidades sistêmicas
Mais que escândalo, o caso Master serve como um espelho para mostrar como funciona, de fato, a política brasileira: estruturas poderosas — e por vezes não transparentes — se sustentam por meio de favores cruzados, contratos jurídicos generosos e alianças estratégicas. Isso sem falar na questão regulatória: como permitimos que uma instituição com laços tão profundos com figuras centrais do poder siga operando até um colapso?
A liquidação extrajudicial ordenada pelo Banco Central pode encerrar a operação do Master, mas não encerra o que o escândalo revela: uma democracia vulnerável, onde o poder judiciário, o mercado e a política se fundem em redes que quase nunca são investigadas em profundidade.
A urgência de resposta
É hora de exigir não só investigações criminais, mas uma reforma ética: transparência nas nomeações, limites claros para advogados de familiares de ministros, e mecanismos rigorosos de prevenção a conflitos de interesse. Se não fizermos isso, acontecimentos como o Master se tornarão apenas mais um capítulo previsível no livro dos escândalos brasileiros.





