Uma auditoria do Tribunal de Contas do Estado do Piauí (TCE-PI) revelou fortes indícios de superfaturamento, direcionamento e risco de grave prejuízo ao erário em um contrato de R$ 11 milhões firmado pela Secretaria de Educação do Estado (Seduc) com a empresa TRON Robótica Educacional — amplamente promovida pelo humorista e influenciador Whindersson Nunes.
O levantamento técnico aponta que a licitação apresenta inconsistências significativas, desde preços acima dos praticados no mercado até elementos que sugerem favorecimento à empresa vencedora. Segundo os auditores, a TRON teria sido beneficiada por cláusulas específicas do edital que limitavam a competitividade do certame e restringiam a participação de outras empresas do setor.
Entre os achados da auditoria, constam:
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Superfaturamento: os valores pagos pelos kits de robótica e materiais pedagógicos superam, em alguns casos, mais de 40% do preço de produtos similares no mercado nacional.
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Direcionamento do edital: o TCE encontrou especificações técnicas que coincidiam exclusivamente com produtos da TRON, limitando a concorrência e levantando suspeitas de favorecimento.
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Risco de prejuízo aos cofres públicos: o contrato prevê pagamentos escalonados que, segundo o Tribunal, foram assumidos sem garantias de entrega integral e sem comprovação da real necessidade da aquisição em larga escala.
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Fragilidade no planejamento: a Seduc não apresentou estudos suficientes que justificassem a compra de milhares de kits de robótica, especialmente em escolas que sequer possuem estrutura mínima para abrigar laboratórios do tipo.
A TRON Robótica Educacional ganhou notoriedade nacional após campanhas de divulgação protagonizadas ou impulsionadas por Whindersson Nunes, que costuma apresentar a empresa como inovadora e responsável por transformar o ensino de tecnologia em escolas públicas. Apesar da exposição, o TCE afirma que popularidade ou marketing não substituem a necessidade de rigor técnico, transparência e economicidade na contratação pública.
A auditoria também alerta para o risco de que o investimento milionário acabe resultando em equipamentos subutilizados ou abandonados, um problema recorrente em programas de tecnologia educacional quando não há planejamento pedagógico adequado.
O processo agora segue para análise do plenário do TCE-PI, que poderá determinar a suspensão do contrato, aplicação de multas, devolução de valores ou abertura de tomada de contas especial para apurar responsabilidades. A Seduc e a TRON têm prazo para apresentar defesa.
Caso as irregularidades sejam confirmadas, o caso pode se tornar um dos maiores escândalos recentes envolvendo gastos educacionais no estado.





